Visa por imagem 2020 vai terminando neste fim de semana em Perpignan, deixando gravado nas retinas as imagens do brasileiro Victor Moriyama sobre a devastação na Amazônia. Prêmio 2020 Visa pour l’Image.
No mesmo fim de semana, o Espaço Frans Krajcberg expõe, pela primeira vez, 9 fotografias contundentes da série inédita de Sebastião Salgado chamada « Blessure ».
Dois olhares, duas gerações, que se convergem para a mesma urgência.
Neste momento em que não podemos mais nos deslocar com facilidade, as imagens são uma forma de resistência. Contra a destruição que se faz presente, a ação. Nunca se devastou tanto. A ferida está aberta, e arde. O desmatamento da cobertura vegetal bateu recorde e aumentou 29,5% em relação a 2018, totalizando uma perda total de 9.762km² de floresta. Todos esses números ficam claros diante da força destas duas diferentes narrativas imagéticas.
Salgado nos apresenta, do alto, o que poderia parecer uma Amazônia grandiosa idealizada. Mas não. Do alto, as marcas da destruição ganham a verdadeira dimensão da tragédia junto com a denúncia da nossa impotência diante delas. Salgado usa a grandiosidade como fundamento de todo um exercício filosófico.
Ao olhar a floresta lá de cima, do céu, ele nos convida a uma antropologia da paisagem.
Sente a necessidade de distancia pois é essa que lhe permite elevar-se acima do conjunto dos sistemas territoriais para nos ajudar a entender sua lógica ou, em todo caso, para nos encorajar a fazer perguntas relevantes. Somos assim convocados ao pensamento metafísico e a uma ecologia moral.
Já Victor Moriyama está no campo de batalha, encara diariamente a ignorância da devastação. Às vezes também do alto, mas a maior parte do tempo do chão, com o pés fincados na realidade dos povos da Amazônia. Entra mata à dentro. Compromete-se a documentar os processos de violência que prevalecem nas relações sociais e ambientais do Brasil.
Diferentes, únicos, Sebastião e Victor se encontram na dimensão política de suas imagens, e no poder transformador da fotografia.
Desejamos que esse diálogo ajude a engajar a sociedade global para pensar e combater a destruição e o desmatamento dessa que é uma das maiores florestas tropicais do mundo.
Victor Moriyama é um fotojornalista brasileiro residente em São Paulo que cobre a América do Sul e a floresta amazônica para a imprensa internacional e ONGs. Seus trabalhos são baseados em uma fotografia humanista. Conflitos agrários, desmatamento e conservação das florestas tropicais e de sua biodiversidade, genocídio de populações indígenas, aceleração das mudanças climáticas são temas que têm norteado sua produção fotográfica nos últimos anos. Preocupado com a escassez de reportagens em profundidade sobre conflitos na Amazônia, Victor criou em 2019 o projeto @historiasamazonicas, uma comunidade de fotógrafos latino-americanos empenhados em documentar os processos contemporâneos que ocorrem na Amazônia e definir o presente. Sua ideia é expandir o conhecimento mundial e envolver a sociedade global com os problemas da maior floresta tropical do mundo.
Sebastião Salgado nasceu em 8 de fevereiro de 1944 em Aimorés, estado de Minas Gerais, Brasil. Depois de estudar economia, ele começou sua carreira como fotógrafo profissional em 1973 em Paris nas agências de fotografia Sygma, Gamma e Magnum. Em 1994, ele e Lélia Wanick Salgado criaram Amazonas images. Salgado já viajou por mais de 100 países cobrindo as grandes histórias da humanidade, capturando ambientes naturais e aqueles que neles vivem. Ele usa suas imagens para promover a preservação ambiental.
Sebastião Salgado vive em Paris, é um dos embaixadores da UNICEF pelo mundo e Membro Honorário da Academia de Artes e Ciências dos Estados Unidos.