A Galeria da Gávea, no Rio de Janeiro, apresenta a exposição “Rio Night Fever”, uma retrospectiva do trabalho do fotógrafo francês Vincent Rosenblatt no Brasil. Vincent chegou ao Rio, meio por acaso em 2005,  descobriu o universo do funk carioca e acabou ficando até hoje. É fácil imaginar a cena do gringo deslumbrado com a explosão do funk e clicando aquelas fotos clichês de um universo que em um primeiro momento não era o dele. Não poderíamos estar mais errados.

Como todo fotógrafo descobrindo seu tema, Vincent precisou de tempo. Primeiro teve que entender os códigos do universo funk e sensibilizar seu olhar. Para entrar nos bailes como fotógrafo precisou da autorização dos djs e facções locais. Foi preciso um tempo para ser conhecido e respeitado como fotógrafo dos bailes. Do seu lado começou a entender a cultura do funk, suas letras, seus MCS e toda a produção por trás. O funk foi e é uma criação cultural carioca enorme, uma ação espontânea de pulsação vinda da periferia, da margem. Suas letras são fortes, diretas e contam todo o cotidiano das favelas. O funk saiu da periferia e entrou na cidade mostrando o que era tabu, gritando o que era realidade e escancarando a liberdade de expressão.

“Se não for para causar, eu nem saio”. Tati Quebra Barraco

O trabalho de Vincent documenta o surgimento, o apogeu e a queda dos bailes funks do Rio De Janeiro. O funk foi cria da periferia carioca, virou patrimônio cultural em 2008 até ser dizimado nos dias de hoje, pelas proibições, rixas, ignorância e ganância religiosa, política e econômica. Vincent clicou um momento na história carioca que existiu e não existe mais: a passagem dessa cidade como capital efêmera do funk.

Vincent fotografa resistência: política, social, cultural, de ontem, hoje e sobretudo de amanhã, nossa e da cidade. Fotografa a força vital frente ao apagamento. E isso é fotografia no seu sentido mais amplo e interessante: fotografar um duração vital das coisas, para tecer um diálogo entre imagem e espectador, real e ilusório, passado e presente, futuro e passado… Ou seja, entre os diferentes tempos e imaginários que nos perpassam. O mundo não corresponde exatamente a esta realidade que vemos tão clara e palpável a nossa frente. Aliás, muito pelo contrário, essa suposta realidade não é nada além de um capricho do imaginário, em um universo onde, em tons coloridos e com a luz do flash, vemos a transfiguração, o erotismo inatingível, fantástico e pleno do funk de Vincent.