Em Paris, estamos novamente de máscaras, na urgência de fugir do thriller “Quarentena II”, o retorno. Mas continuamos positivando, e fazendo deste confinamento, um belo motivo de descobertas. O trabalho do artista Virgilio Neves, faz parte delas.

Confinado em São Paulo, Virgilio compartilha aqui, sua imensa capacidade transformadora. Nesta quarentena, se reinventa no seu criar. E assim, nos ajuda a responder que sentido, e em consequência, que forma dar ao incessante transcorrer do tempo. Através das suas práticas diárias da arte, domestica a técnica e usa a luz na apreensão pragmática dos objetos. Ilumina as texturas do cotidiano, transcendendo o usual. Então novos usos aparecem para os objetos da casa. Não são mais objetos e sim modos de ver.

Sou artista visual e costumo trabalhar com o desenho e a pintura. Nessas duas linguagens sempre dei muita atenção às linhas porque com elas eu conseguia dar mais leveza e movimento às formas, criando imagens que pareciam flutuar no campo visual. Algo que eu chamei de “Volatilismos”.

Comecei a trabalhar com fotografia seguindo essa mesma direção. Produzi uma série de imagens usando fibras de leds azuis que acabaram gerando composições muito luminosas e dinâmicas.

Com o confinamento, tive que reinventar um pouco o meu processo. Meu apartamento virou meu espaço de trabalho. As janelas se tornaram meus olhos. E quase sem perceber, comecei a prestar mais atenção nas texturas dos vidros e na maneira como a luz era filtrada. Uma das portas de casa, por exemplo, tem uma placa de vidro bastante texturizada.

No inicio, usei a câmera para captar a luz natural que essa textura deixava escapar. Depois passei a colocar no vidro diversas figuras feitas com papéis, tecidos e objetos como anteparo para as fontes de luz. O resultado foram composições luminosas, fragmentadas e muito voláteis.

Essa experiência em fotografia me fez perceber que a luz e a transparência poderiam fazer parte da minha poética e da minha pesquisa em arte.

Dei a esta série o nome de “Supernovas”, numa alusão àquelas estrelas que liberam uma quantidade enorme de luz antes de desaparecerem. Ela também registra esse momento em que somos chamados a nos recolher, a observar, a refletir e a transformar. Até porque quando olhamos o que nos cerca, nunca conseguimos ver tudo. A arte existe para completar aquilo que falta.


Virgilio Neves

Virgilio Neves: Paulista, formado pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Tornou-se especialista em História da Arte pela FAAP em 2010 e concluiu seu mestrado em Teoria da Arte na UNESP em 2019. Possui ampla experiência na produção e no estudo das imagens. Sua busca artística consiste em obter nas formas que produz, sensações de leveza e volatilidade a partir das linhas, das cores, da luz e das transparências.