O mês de está aí, com a promessa de um lento e gradual desconfinamento.

O Presidente da República falou na terça-feira, do dia 24 de novembro, às 20 horas, sobre as modalidades de realização das saídas e viagens do mês de dezembro. Já sabemos que a cultura será um dos últimos setores a poder exercer plenamente a sua atividade. Esperemos medidas mais leves que nos permitam planejar mais para o próximo ano. Dia 15 de dezembro foi a data escolhida para o veredito, que vai depender dos números da pandemia. Enquanto esse dia não chega, nós do Iandé, temos a honra de poder mostrar aqui a obra de um dos mais renomados artistas da pintura fotográfica de São Paulo. Professor, artista plástico, jornalista, Fernando Banzi leva você para conhecer o centro de São Paulo e seu apartamento, onde passou o confinamento do mês de março, sempre trabalhando na sua pesquisa e desenvolvendo a arte da colorização.

Avenida Ipiranga esquina com Avenida São João.

São Paulo, 16 de março de 2020.

Recebemos a informação que depois daquela noite de aula teríamos que de fato fazer a quarentena, regresso para casa de trem muito pensativo. Minha cabeça não pára, penso  sobre tudo que já li sobre o vírus, as mudanças globais e o quanto a pandemia poderia atingir as pessoas no Brasil.

Moro na avenida São João, quase esquina com a Ipiranga, centro de São paulo, epicentro de contágio do coronavírus na América latina, é nesse ponto que inicia a investigação, sabia que corria muito risco saindo de casa, pois o território central é a ligação aos acessos da cidade, me vi trancado, com medo de sair e isolado do contato físico. “Alguma coisa acontece no meu coração”… no começo fiquei bem, dar suporte aos alunos foi uma saída para passar o tempo, trabalhar era ocupar a mente, mas logo isso se acentuou e ficar sozinho já não estava sendo bom, minhas crises de ansiedade chegaram e aumentaram, chegando até a um ataque de pânico.

Ver as notícias era como uma faca de dois gumes, por uma lado me informava e ao mesmo tempo contribuía para minha ansiedade, sozinho por muito tempo e tendo que adaptar os conteúdos das aulas de fotografia para um ensino remoto, passava mais tempo no computador pesquisando, ao pesquisar algumas fotografias sobre a gripe espanhola para uma aula vi um retrato de 100 anos de uma pessoa com máscara passando pela mesma situação que eu ali estava, foi o impulso que eu precisava para voltar a minha pesquisa em intervenção em fotografia.

A série Máscara tem como base arquivos fotográficos digitalizados de instituições nacionais e internacionais, imagens com mais de 100 anos. Na pesquisa das imagens foi usada a palavra-chave: “Máscara”. Segundo google uma das palavras mais pesquisadas nas duas primeiras semanas de quarentena no Brasil.

Para criar uma narrativa visual foi usada fotografias de fatos históricos como a Primeira guerra mundial e a Gripe espanhola, criando uma ponte como a atual situação sanitária mundial. Me aproprio dessas imagens e com a técnica de foto-pintura digital faço uma coloração e acrescento novas camadas a essas imagens para poder dialogar com a Pandemia que estamos vivendo nos tempos atuais.

Parafraseando Edmund Burke“Um povo que não conhece sua História está fadado a repeti-la.”

A Máscara tem sido um dos objetos essenciais dentro desse cenário e por vezes comparado por líderes governamentais e imprensa como uma arma de guerra frente ao combate contra o Coronavírus. A série se mantém em processo para experimentar novas imagens, mesmo porque estamos de quarentena até o presente momento aqui no Brasil.

Pintar foi uma das saídas para aliviar o medo, poder respirar, assim a minha ansiedade foi diminuindo.


Fernando Banzi é artista, jornalista, fotógrafo e professor.
O seu trabalho foi apresentado no festival Photo España 2018 em Madrid.
Em 2019, ele publicou “Tipos” na coleção BeSpoke das Edições Bessard

Types  é uma série de fotos-pinturas digitais, resultado de uma pesquisa em imagética, aplicada a 12 retratos do fotógrafo Alberto Henschel – conhecido por registrar as paisagens do Rio de Janeiro e o cotidiano da monarquia brasileira no Segundo Reinado.

A premissa da série é ressignificar seus retratos, datados do final da década de 1860, e atualizar, por meio de sua fotografia, a questão histórica e estrutural ligada à população negra brasileira.