O fotógrafo Ale Ruaro iniciou em 2017 sua série “Retratos da fotografia brasileira”. De lá para cá, já fotografou mais de 300 pessoas entre fotógrafos, curadores, editores e colecionadores de fotografia. O conjunto dessas imagens constitui um importantíssimo ode à nossa memória. É uma bela homenagem à história da fotografia brasileira e a quem se consagra à essa arte.

Como a incrível Maureen Bisilliat que se instalou definitivamente no Brasil em 1957 e contruiu uma sólida carreira fotográfica. Esse ano de 2021, ela faz 90 anos.

Como a incrível Maureen Bisilliat que se instalou definitivamente no Brasil em 1957 e contruiu uma sólida carreira fotográfica. Maureen acaba de completar 90 anos.

Em seus retratos, Ale Ruaro trabalha sempre em preto e branco. Usando a luz natural, e elementos cotidianos de seus fotografados,  entra no universo de seus retratados. Luz bem marcada, com texturas aparentes, Ale tem uma linguagem particular que ele mesmo define como uma fotografia de pessoas contemporâneas com o olhar suave, amoroso e solidário de um artista do século XVII. Mas clicar fotógrafos é um desafio ainda mais difícil: como revelar a pessoa e o fotógrafo para além do personagem?

©Ale Ruaro, Milton Guran

©Ale Ruaro, Milton Guran

O retrato sempre esteve muito ligado com a história da fotografia. Temos exemplos antigos que acompanham a descoberta do meio, como as imagens de expedições ao “novo mundo”, o desenvolvimento da fotografia policial (sobretudo os estudos criminalistas de Cesare Lombroso), depois os cartões de visita e os álbuns de família do século 19, até os atuais selfies na internet.

Mas em que consistiria um bom retrato?

Seria um retrato que mostrasse a alma do retratado, sua verdadeira personalidade? Que captaria uma espécie de instante decisivo da alma? E mais uma pergunta no meio de tantas questões, existira um retrato verdadeiramente autêntico? É interessante notar que esse universo do retrato na fotografia sempre brincou com as aparências, poses e a verossimilhança. O retrato sempre esteve nesse limite: entre o genuíno e a representação. Mesmo os retratos de identidade, ou científicos, também encenam, só que de maneira oposta: com uma extrema falta de recursos, levando a uma perda de autenticidade.

Uma das grandes forças do retrato, ou pelo menos, uma das causas de nossa grande fascinação, é a conexão com a pessoa fotografada. Não temos uma paisagem, ou um detalhe corriqueiro, temos o olhar do outro diante de nós. E nesse caso são olhares atentos e poderosos de pessoas que contaram e contam visualmente a história do nosso país e do nosso povo.

Alê Ruaro trabalha com retrato faz tempo, em 2011 fez uma série chamada “Naked Friends” de retratos de amigos nus. Mesmo suas séries mais documentais como “Hotel Ruby” e “BDSM” trazem retratos contundentes. Em “Retratos da fotografia brasileira”, o artista, como ele mesmo comenta, quis mostrar a fragilidade de quem sempre está atrás da lente. O resultado é um diálogo construtivo entre dois fotógrafos.

E você, conhece todos essas personalidades da fotografia brasileira?