Andrea Eichenberger nasceu em 1976 em Florianópolis, no sul do Brasil. Depois de estudar artes, dedicou-se a um doutorado em antropologia visual entre o Brasil e a França. A experiência do encontro é o cerne de suas práticas e pesquisas artísticas. É a partir da troca com o outro que Andrea levanta questões sobre a existência humana e suas relações com o mundo.

Andrea nos fala sobre sua proposta (In) Segurança:

“Durante os dez últimos anos, dividi-me entre Florianópolis e outra cidade e, a cada vez que retornava, algumas indagações nasciam de um olhar que não reconhecia os lugares que via: o que havia mudado nas casas, nas ruas, nos bairros, nas pessoas, na cidade enfim?

Florianópolis vive, assim como várias outras cidades brasileiras, consideráveis transformações relacionadas ao seu espaço urbano. Passei a observar o modo como as pessoas procuravam proteger suas casas, propriedades e famílias. Elementos que, a princípio, poderiam ser considerados estranhos se tornaram rapidamente comuns aos olhos dos habitantes na medida em que  passaram a fazer parte de seu quotidiano. Os aparatos de segurança espalhados pelas residências florianopolitanas parecem já não mais chocar os moradores, o que choca é, ao contrário, a ausência destes. As proteções tornaram-se uma normalidade.

Uma atmosfera de insegurança paira sobre a cidade e seus habitantes. Medo e paranoia instalaram-se na vida de muitas pessoas tornando-as suas reféns. Para muitos, estar em segurança significa cercar-se de aparatos que tanto podem proteger quanto limitar sua liberdade. Mas o que significam esses elementos de segurança : uma necessidade? um hábito? seriam eles uma fabricação da cidade de consumo? resultados de falhas no sistema? consequências de imagens veiculadas diariamente pelas mídias de informação? uma questão politica?

A fotografia, como ferramenta, é tomada neste trabalho para promover encontros e, ao mesmo tempo, ajudar a refletir sobre um desejo comum e constante de não-encontro. Como linguagem, mostra, aponta, documenta, promovendo um diálogo entre disciplinas, neste caso,  arte e antropologia. É arquitetado com base em elementos da realidade, sem, no entanto, deixar de considerar que as representações não passam de construções subjetivas. Ao mesmo tempo, pergunta: “que realidade é essa?”. A fotografia é, desta forma, articulada de modo a descrever, a restituir fatos, a contar histórias, singulares ou coletivas, que buscam questionar a sociedade sobre o (con)viver na cidade. As impressões captadas pelas lentes da máquina fotográfica buscam questionar o caráter natural dos indivíduos conceberem os aparatos de proteção no seu quotidiano, e, consequentemente, sua presença no mundo e as relações sociais mediadoras dessa presença.”